terça-feira, 24 de abril de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

                Sinceramente, sempre achei que matar alguém seria algo que me consumiria por remorso. Só que absolutamente nada havia mudado. Sentia-se calmo, tranquilo e confesso ate um pouco aliviado. Passa pela minha cabeça porque o fato de ter matado mais de um ser humano não me incomodava e porque de ter sido atacado por eles. Me convenci que precisava de um tempo para a realidade cair.
                Enterrei o corpo no quintal mesmo como quem enterra m saco de lixo. Quando terminei, tomei um banho e percebi que a madrugada estava caminhando ao fim. Me troquei e resolvi ir à casa de meu amigo Andrei, mesmo sabendo que ele, com certeza, não iria gostar de ser acordado.
                Andrei era um amigo acompanhava desde a adolescência. Com toda certeza o meu melhor amigo, um irmão que me ajudava sempre, pelo qual confiava minha vida. Sabia que se houvesse alguém que eu pudesse contar o que houve seria para Andrei.
                Meu medo ainda batia em minha mente. Peguei uma faca de combate que tinha como lembrança da época de serviço militar, coloquei coleira no meu cachorro e fui ate meu carro que havia abandonado horas antes. Caminhava lento e prestando atenção em cada espaço que alguém pudesse se esconder e qualquer movimento diferente de Toram, meu cão.
                Meu carro estava com o vidro quebrado, a chave no chão perto do corpo, como havia deixado.
                 - Toram, pra dentro – gritei colocando o cachorro, enquanto limpava os vidros do banco do motorista.
                Sai dirigindo, meu bairro continuava sem ninguém nas ruas, o acidente agora estava rodeado com policiais e socorrista. Passei como se aquilo não existisse.
                Andrei morava em um prédio na Afonso Pena, perto do Shopping. Conforme ia me aproximando do centro da cidade o movimento ia aumentando. Vi algumas pessoas correndo e alguns corpos estavam jogados pelas calçadas. Parei o carro na rua, desci com Toran e fui entrando e subindo as escadas, ate ver um corpo com um facão enfiado no peito.
                Mais alguns andares e estava na frente do apartamento de meu velho amigo. O corredor estava sujo de sangue e meu corpo gelou. Abri a porta com medo do que viria. Felizmente vi meu amigo de pé em frente à janela olhando o amanhecer.
                - Incrível te ver de pé assim há essas horas – disse aliviado – Que foi, caiu da cama?
                - O amanhecer é uma das obras mais incríveis, aos meus olhos – disse Andrei ainda de costas – Esperava você Bastian! Ou posso chama-lo de Avirus, o caçador. Estou confuso de como me referir a você.
                Estranhamente Toran correu animado ate Andrei, abanando o rabo e sentou-se aos pés dele.
                - Como é que é? Mané, você ta bem? – perguntei me aproximando – to precisando falar contigo.
                Toran mostrava-se feliz e tranquilo aos pés de Andrei. Eles sempre se deram bem, mais nunca havia visto Toran tão sociável e animado em ver alguém. Abaixado acariciando meu cachorro Andrei disse:
                - Também  precisava encontrar voce. Imaginei que viria aqui depois do que fez.
                - Você esta falando de que?
                - Você não procurava seu amigo pra contar das mortes que causou aos seus irmãos?
                - Como você sabe disso?
                - Vejo o que você faz há tempos! Só estou nesse mundo pra isso. Só estou nesse mundo por sua causa.
                - Hein? Do que você esta falando?
                Olhando para mim, percebi que Andrei esta diferente, um olhar agressivo, mais imponente que me dava frio na alma.
                - Sou aquele, escolhido e desci do reino dos céus para caçar o caçador. Eu vim para livrar o mundo de você!
                Ao terminar a frase correu para cima de mim, me acertando com um soco atordoante. Sem entender, só me afastei e gritei.
                - Você está louco Andrei? O que esta acontecendo?
                - Eu não sou Andrei, meu nome é Ciel! Leve esse nome aos seus senhores do inferno.
                Seus ataques continuavam e doíam terrivelmente. Já havia levado socos demais naquela noite, mas nenhum deixava a sensação de queimadura. Minha paciência foi acabando e resolvi revidar aos golpes.
                A luta era violenta e ambos atacavam com toda ira que seus corpos podiam gerar. O apartamento estava sendo destruído. Mesas, espelhos, vasos, tudo era usado como arma. Em certa altura da luta, que não percebi qual, perdi a noção e já não via pensava mais no que estava fazendo.
                Em um desses ataques, senti uma cadeira sendo quebrada em meu peito e a queda foi inevitável e incrivelmente dolorosa. Rapidamente, Ciel, subiu em cima de mim e começou a me estrangular. Sentia sua mãe queimando meu pescoço. Em um movimento de reflexo, saquei minha faca, e enfiei entre as costelas do infeliz que me largou em um pulo.
                Com a faca ainda encravada na lateral do tórax disse:
                - Demônio tolo – Armas humanas matam apenas humanos.
                Tentando, tonto, me levantar, em uma velocidade sobre humana ele cruzou a sala e parou na minha frente me prendendo na parede com a mão direita no meu pescoço, me levantando do chão.
                - Oras, você se tornou quase humano – dizia me estrangulando – perdeu suas habilidades demoníacas inúteis.
                O ar começava a faltar.
                - Vocês demônios ainda se atrevem a questionar e enfrentar as decisões dos céus. Ainda insistem em corromper as almas livres dos homens. Você é fraco, ignorante e desleixado como todo demônio.
                As dores eram insuportáveis  e aumentavam junto com minha raiva. Sentia a consciência indo embora, quando algo em meu corpo esquentava e minha raiva estourou.
                - Seu fim será primeiro que de todos! –disse Ciel – volte ao inferno em nome...
                - Foi mal velho, - eu disse colocando a mão nas laterais da cabeça dele – Eu sou ateu!
                Sentia minha mão esquentar, mas agora, não doía. Agora era prazeroso, e com isso me sentia como novo.
                Ciel apertava ainda mais meu pescoço, agora com as duas mãos, mas quanto mais força usava mais sentia meu minha mão quente, mas força sentia em minhas mãos e menos dores sentia. Já não sentia mais a falta do ar. Sentia agora algo correndo pelo meu braço, pelas minhas mãos e entrando na cabeça do que foi meu amigo. Agora gritando com dores, seus ataques eram apenas pra livrar sua cabeça das minhas mãos. Vi seus olhos perderem lentamente o branco e uma sobra preta tomava conta.
                Ajuda! – disse Ciel apontando a Toram.
                Meu cachorro que ate agora assistia tudo sentando quieto, agora mordia meu braço com uma violência que não imaginei que teria. Apenas com um movimento de braço, joguei o cão para longe, enquanto mantinha minha mão esquerda ainda sobre meu inimigo, que se retorcia.
                Sem saber o que estava fazendo apontei minha mão a Toram, que vinha novamente em ataque, senti minha a palma da minha mão queimar outra vez. Toram agora parado, como se estivesse sido hipnotizado, mostrava-se submisso a mim e seus olhos também perderam o branco, sobrando apenas um olhar negro, profundo e focado.
                Voltando minha atenção a Ciel disse:
                - Ao contrario de você, não vou te mandar de volta a lugar algum. Daqui você não sairá. Sua existência acaba aqui – Gritei enquanto transferia toda minha raiva para Ciel.
                Ele gritou de agonia. De sua boca se fez uma luz forte que durou alguns segundos, ate Andrei cair morte e livre de Ciel.
                Senti-me aliviado e feliz pela morte de Ciel, porem ver Andrei, morto sangrando pela boca me revoltou.
                A sombra que se fazia em uma das paredes da casa, agora tomava forma e dela surgiu um homem, de terno negro, gravata vermelha, muito bem alinhado, alto e forte.
                - Bem vindo de volta Avirus, aquele que já foi o meu melhor caçador!

Bastian S. Barros

domingo, 4 de março de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

Cheguei ao saguão do prédio. Um silêncio obscuro ocupa o ambiente. Caminho até a porta de entrada, de vidro, no qual se encontra trancada.

- Porcaria... Só da pra abrir com o interfone de algum apartamento. HEY! TEM ALGUÉM AI? MAURÍCIO! TA AÍ?

Mas onde esse Maurício foi parar?! O cara é o porteiro! Deveria estar na guarita logo em frente a porta. Mas o silêncio continua. Bem.. no chaveiro da minha moto, tenho o controle do portão. Vou ter que sair por lá mesmo. Volto ao elevador e aperto o botão S1, que me leva ao primeiro subsolo do estacionamento. Caminho até minha moto parada na vaga. Preta, quase se camufla na pouca iluminação do ambiente. Algumas lâmpadas incandescentes tentam dar alguma luz. ( Não consigo deixar de pensar do porque ainda usarem lâmpadas incandescentes nos dias de hoje em um prédio desses... Ossos do ofício mesmo).

Sento no banco macio e confortável da minha Shadow e dou a partida. O motor de 600 cilindradas da uma tremida e começa a trabalhar. O escapamento, não mais o original, mas um maior e com um ronco mais grosso e firme, dá vida ao lugar. Dou uma leve acelerada pra me acalmar e percebo uma mancha vermelha no tanque da moto. O sangue da minha camiseta começa a pingar. Merda.

Acelero e saio pelo o portão do prédio. A avenida Afonso Pena está incrivelmente deserta! nada! nenhuma pessoa ou veículo em movimento!

- Mas o que está havendo nesta cidade??? Nem mesmo o ponto de ônibus em frente ao shopping tem alguém. Caramba.. to ficando realmente preocupado.

Vou seguindo com a Shadow em direção ao centro. Chegando perto da rua Paraíba, percebo uma pequena aglomeração de pessoas na calçada. Todas agachadas, em uma espécie de circulo. Paro a moto próximo a eles e a deixo ligada, apenas no neutro. Tiro o capacete e o seguro em uma das mãos.

- Hey vocês aí! Podem me dizer o que está havendo?

Todos olham imediatamente em minha direção, surpresos por me verem ali. "Por acaso eles não ouviram o barulho da minha moto chegando?!"

- Mas que porra é essa na sua mão??? - Pergunto a uma mulher, que segura algo parecendo com uma perna humana. A roupa dela e dos demais e até os rostos, estão cobertos de sangue. Olho melhor e percebo um corpo caído próximo ao grupo...  sem uma das pernas..

- Mas que diabos?! - Tremendo e sem reação, tento caminhar até a moto. Mas eles são mais rápidos e saltam em minha direção. Antes que eu pudesse fazer algo, um cara me segura pelo o pescoço e me ergue do chão, apertando muito forte. Quase sem ar, lutando pra respirar, percebo que outros dois deles seguram cada um em um braço meu e começam a puxar no sentido oposto com muita força.

- Ahrngg.. tento gritar, mas já quase sem voz..

Percebo um sorriso sádico no rosto do enforcador. E quando penso que já não vou mais aguentar, algo estranho acontece. O cara afrouxa a mão e me solta repentinamente, incluindo os outros dois. Caio no chão e respiro fortemente, ainda atordoado e com a visão turva. Tento, ao mesmo tempo, perceber o que está havendo, mas a única coisa que vejo são corpos caindo no chão à minha frente. Em seguida, percebo um vulto se afastando..

- Volte.. me ajude.. eu... E acabo desmaiando...



Abro os olhos e uma luz natural e tranquila repousa sobre eles. Mecho minhas mãos e meus pés e percebo que está tudo em ordem. Me levanto devagar e olho ao redor. Estou num quarto. Sentado sobre uma cama macia, de coucha branca de algodão. As paredes com um tom bem súave em branco, assim como todos os móveis. Tudo era tão branco que por um momento, me senti tonto. Já não estou mais sujo de sangue e minha roupa é outra. Uma espécie de túnica grega feita de lã, também branca. Me levanto totalmente da cama e caminho até a porta. Abro-a com certo receio e saio.

Um lindo vale se estende à minha vista. Minha mente por um momento trava naquela imagem e meus pensamentos se perdem, desaparecem, dando espaço àquela vista magnífica. Dois riachos passam paralelamente sobre o vale e um bosque se estende ao longo de sua margem acima.

- Que bom que acordou, Omael. - Uma voz surgiu ao meu lado.

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Roberto Medeiros







sábado, 18 de fevereiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

   Apos toda essa confusão, fiquei em choque um bom tempo, sentado no meu sofá, olhando para o nada, ignorando meu cachorro que pedia atenção. Tomei um banho quente, demorado e relaxante tentando limpar aquela imagem da minha mente, fumei um cigarro  preguiçosamente  e acabei pegando no sono sem perceber no sofá com meu amigo do lado.
   Já na madrugada acordei assustado com dores da posição que me deitei e resolvi ir pra cama e dormir decentemente. Enquanto tomava um gole d'água  na cozinha percebi um vulto passando na janela no escuro, e meu cachorro em posição de atenção.
   - Ok! isso não foi impressão minha.
   Apaguei as luzes de dentro da casa e acendi as de fora para que pudesse ver o que ou quem rondava.
   O cão então correu ate a janela em grande latidos e uma raiva que eu nunca havia visto.
   De longe pude ver que alguém procurava algo no.
   - O que diabos você quer no meu quintal? - gritei - Suma daqui ou vou tomar providências.
   Ao me ouvir o sujeito correu em ataque ate a janela, e não pude segurar o susto que me jogou no chão.
   Vendo aquela situação, que chegava a ser engraçada, o cachorro latindo de um lado, e o homem gritando e batendo do outro.
   "Vamos ver o que esse cara aguenta"
   abri a porta, e como um assassino o cão passou por mim na clara intensão de atacar o estranho. Mas com a mesma velocidade do ataque ouvi o cachorro chorar, e compartilhei o mesmo sentimento de raiva. Abri a porta e e segurei a primeira coisa dura que achei. Uma vassoura!
   "melhor que nada"
   Fui devagar, com a "arma" erguida, andando em silencio, procurando meu amigo e o tal sujeito. Quando vi, na lateral estreita da casa, o meu amigo acuado, e o tal cara tentando pega-lo, só pude correr e dar com cabo da vassoura nas costas do filho da puta que caiu deitado .
   - E fica ai infeliz!
   Mas logicamente ele se levantou com ainda mais raiva. Porque ter pouco problema e perda de tempo!
   Quando o sujeito quebrei o cabo da vassoura nele, mas o golpe teve a mesma função que o primeiro. Dessa vez o tal correu e antes que eu pudesse pensar em alguma coisa tomei um soco e ao me desequilibrar, pra completar, levei um chute no peito que me jogou longe.
   Retomando o prumo só tive tempo de ver o sujeito agressivo pular em cima de mim. Ao armar um novo soco, enquanto a outra mão apertava meu pescoço, assustamos (digo assustamos por que nenhum dos dois esperava tal reação) o pesado cão pulou e mordeu o braço do cara antes que socasse novamente.
   No desespero, tanto meu quanto do infeliz, pude sentir uma pedra grande em minha mão e com tudo que pude bati com ela no queixo do desgraçado derrubando, ainda com o cachorro preso no seu braço.
   Enquanto meu cachorro mantinha o infeliz ocupado procurava algo mais eficiente que uma pedra ou uma vassoura. Achei algo bem interessante. Devagar e acumulando raiva peguei minha enxada, caminhei ate o desgraçado que me socou e num golpe só enfiei a ferramenta na cabeça infeliz.
   - Que saco! - falava o cachorro ainda bufando de cansaço - O que eu faço com esse corpo agora? Que merda ta acontecendo? E o que aconteceu com meu carro???


Bastian S. Barros

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

Longas duas horas se arrastaram desde os acontecimentos estranhos e ainda não consegui tomar uma decisão sobre o que fazer. Todos os canais da televisão estão fora do ar e as linhas de celulares estão congestionadas. Talvez o fim do mundo realmente esteja acontecendo... que bizarro não? Mas, como em tantas outras catástrofes, é bem capaz de que na próxima semana tudo se ajeite e não pare de falar sobre isso nos jornais. Como sempre aconteceu... basta uma trajédia e pronto, só passa isso. Mas agora é diferente pra mim, agora parece que eu faço parte desta trajédia e não mais apenas um telespectador observando de longe. Agora eu sou um dos protagonistas do que irá se arrastar pela a mídia nos próximos dias.
 .
Até encontro uma graça nisso tudo, me imaginando dando uma entrevista para uma emissora qualquer, ou todas elas, quem sabe. Falando sobre o incidente com o maníaco no corredor do meu apartamento. Aliais, o que pode ter sido aquilo, afinal? Melhor nem tentar pensar à respeito agora. Preciso saber como estão as coisas lá fora. Agora a pouco dei uma olhada na janela do meu quarto, que dá para a rua em frente ao prédio e havia dois corpos jogados na calçada, ensopados de sangue.. horrível mesmo, nem quero lembrar... mas o mais engraçado é que nem um sinal de polícia ou bombeiros eu ouvi. Lá fora, só silêncio.

Acho que vou lá pra ver. Ficar aqui dentro não vai me ajudar em nada e já não aguento mais ficar sem saber no que estou metido. É isso, vou arriscar e ver o que houve. Levanto da cama, onde estive refletindo nestas duas últimas horas, tirando os dez minutos em que fui na cozinha comer algo, e vou até o banheiro tomar um banho. Agora que reparei que um filete de sangue estava em parte da manga da minha camiseta e no meu braço, devido aquele golpe com facão que feri o rapaz doido. Com banho tomado, me sinto melhor e mais disposto. Coloco uma calça jeans batida que uso pra ir nas obras e uma camiseta vermelha de manga curta e calço minha bota preta. Pego o facão novamente e minha carteira e celular. Quando estou pra abrir a porta da frente, me vem a cabeça a idéia de levar também a chave da minha moto e o documento. Volto e os busco. Quem sabe né, se eu não vou precisar?

Dou uma olhada no olho mágico da porta e nada vejo. Abro a porta e saio, com o facão em posição de ataque. No chão à frente, uma pequena poça de sangue e na minha porta também. Caminho até o começo da escada e começo a descer. Melhor ir pela a escada... nunca se sabe o que encontrarei lá embaixo. Desço três andares e ouço um barulho estranho. Parece um vaso caindo. Continuo descendo cautelosamente até o sexto andar. Mas acontece tudo tão rápido que mal posso reagir. Ouço um grito atrás de mim e ao me virar, um homem vem caindo na minha direção do alto da escada, com seus braços apontando pra mim. Antes que eu pudesse fazer algo, ele desaba sobre mim e nós dois saímos rolando escada abaixo, até parar em frente à porta que saí no quinto andar. Me levanto rapidamente e percebo que o rapaz também já estava de pé. Era aquele mesmo maluco que me atacou mais cedo. No seu rosto, uma espécie de sorriso sádico e odioso se faz e ele avança em minha direção.

 - Cansei dessa palhaçada. Você quer brincar? Então vamos brincar.

Tomado pela a raiva, perco noção das coisas e avanço também em direção ao desgraçado. Com um movimento firme e preciso, me abaixo no último instante e subo com os braços enfiando o facão no peito do infeliz. A lâmina teima em perfurar e faço ainda mais força, erguendo o rapaz do chão em meio à adrenalina do ataque. Começo a me levantar por completo também e empuro o corpo dele em direção à parede, ainda com o facão atravessando seu tórax. Ele começa a se debater e a rosnar com muita fúria, mas aos poucos, sua voz começa a falhar e uma jarra de sangue sai pela a sua boca, caindo em cima de mim. Logo ele perde sua força e sua cabeça cede lentamente, perdendo a consciência e, aparentemente, a vida. Largo o cabo do facão e ele despenca com o corpo no chão. Dou dois pequenos passos pra trás, tremendo muito. Olhando aquela cena sem acreditar no que acabei de fazer. Minhas mãos estão enxarcadas de sangue e sinto que meu rosto não está diferente. Começo a me afastar lentamente e entro na porta do quinto andar. Vou até o final do corredor e me olho no espelho pendurado na parede.

Uma figura vermelha aparece. Rosto vermelho, braços vermelhos e ironicamente, uma camiseta vermelha.

Eu matei uma pessoa. Louca, possuída, sei lá... mas era uma pessoa....

Roberto Medeiros







sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasi


   Depois de mais um dia exaustivo de trabalho tudo que eu mais queria era um bom banho, me jogar no meu sofá e assistir um filme ate pegar no sono. Estava estressado e irritado o transito dessa cidade tem a incrível capacidade de me tirar do serio, mas do que eu já estou. Sorte que tenho me cigarro que me ajuda a manter o controle.
Já próximo da minha casa o relógio acusava 20:00 e felizmente as ruas estavam vazias, com um ou outro veiculo. O que foi suficiente pra piorar um dia difícil.
   Ouvi então uma frenagem brusca e o barulho de um carro batendo. Ao retrovisor pude ver o uma caminhonete  que se chocou contra o muro, uma pessoa jogada ao chão e um rapaz que socava com força a lataria do carro.
“É nessas horas que me pergunto porque sou enfermeiro?”
   Minha primeira reação foi atender a moça que estava  ao chão. Jovem loira, estava cheia de sangue mas consegui encontrar um único ferimento, num mesmo um arranhão, respirava normalmente e alem do sangue inexplicado, nada de grave
-Senhor mantenha a calma! – falei ao rapaz que batia no carro insistentemente, impedindo que eu atendesse o motorista.
   Já que não ouve mudança no comportamento do sujeito, tentei puxa-lo de lado. Conclui que não foi uma boa ideia.
   Fui agarrado repentinamente pelo rapaz desajustado todo sujo de sangue. O infeliz tentava me morder enquanto apertava cada vez mais forte o meu pescoço. No desespero não sabia se tirava a mão do rapaz que me estrangulava ou se impedia que me mordesse.
   Para minha sorte um outro homem agarrou o louco e juntos conseguimos tira-lo de cima de mim, depois de muito esforço. Enquanto recuperava meu folego, via o desorientado se debater na tentativa de se desprender dos braços do senhor que me ajudou.
- Mas que merda rapaz, se acalme! - gritava tentando me levantar - estamos tentando ajudar...
   Mas antes que eu pudesse terminar a frase a mulher, ate então desacordada, levanta-se e morde o samaritano no pescoço arrancando um pedaço e jorrando sangue direto da jugular.
   Com aquela imagem e o desespero tomando forma e o infeliz do rapaz atrás de mim, corri ate meu carro, travei as portas e sai cantando pneu, enquanto via o pelo retrovisor o alucinado ainda correndo atrás de mim e a mulher tirando o motorista do veiculo acidentado aos puxões.
assustado tentava dirigir, discar para policia ao mesmo tempo que mantinha os olhos grudados no espelho tentando adivinhar o que havia acontecido. quando atropelei alguém.
- Que merda de dia que não acaba!!
  Quando me dei conta, arremessei a pessoa metros a frente devido a minha velocidade. depressa fui até o pobre coitado que tentava se levantar por conta, e com poucos metros pude ver que o atropelado, igualmente aos outros estava ensanguentado e com muita raiva.
   Só pude me tomar em correr de volta ao carro, quando ao me virar esbarrei com alguém que me jogou no chão.
-mas o que esta acontecendo com todo mundo desse bairro?- não contive o grito ao ver mais um homem com raiva nos olhos aos urros.
   Enquanto me rastejava  tentando me levantar pude sentir um pedaço de galho, e quanto o tal sujeito veio em investida na minha direção, por reflexo acertei o rosto dele com toda força que pude ter naquele momento.
   Pelo menos pude derrubar um, falta outro.
   Mas antes mesmo de me recompor o segundo já estava vim em minha direção. Me joguei dentro do carro, com o bizarro aos gritos e dando socos na porta, percebi que a chaves haviam saído do meu bolso com o meu tombo.
   Com a insistência o vidro do carro estourou, e em meio aos golpes do homem, me debatendo e me defendendo dos puxões, abri a outra porta e sai correndo como nunca havia corrido na minha vida.         Eram quatro quadras ate minha casa que pareciam infinitas, meus músculos latejava e eu já estava podre de cansado, quando cheguei aos portões. Olhei em volta e não vi ninguém mas tranquei com grossas corrente e cadeado. Antes de fechar a porta chequei cada comodo da casa com aquela imagem do homem morrendo em minha cabeça.
"O que são aqueles homens?"
"Porque tanta raiva?"
"O que eles queriam?"
e principalmente "E o meu carro?"

Bastian S. Barros

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

19:00h

A barulheira lá fora parece ter acabado. Abro a porta do banheiro e saiu de lá. Há quanto tempo fiquei ali dentro afinal? Não tenho a menor idéia... deixei meu relógio em cima da escrivaninha do quarto. Mal terminei de tomar banho e nem tive tempo de me vestir, quando ouvi aquele barulho forte do lado de fora do meu apartamento. Será que vou lá fora ver o que houve? Talvez devesse, mas, não creio que devo arriscar. Pode ser que seja apenas uma briga de vizinhos... bem... sei lá, não me interessa. Vou ver TV que eu ganho mais.

Mal sento no sofá e ouço uma correria lá fora. Junto da correria, gritos. Gritos de desespero e medo, implorando por ajuda. Mas que diabos? Vou pegar o facão que guardo em cima do armário da cozinha e dar uma olhada pelo olho mágico. Já bem enferrujado e quase sem corte, empunho a ferramenta e vou até a porta. Nada lá fora. O corredor parece vazio. Acho que vou abrir.. talvez tenha alguém ferido, mesmo eu não tendo conhecimentos de primeiros socorros, mas talvez seja um assalto e o bandido ainda esteja lá por fora. Bem... vou aguardar mais um pouco. Como posso ser tão impaciente e curioso assim? Ah, que se foda. Vamos ver o que temos lá fora.

Abro a porta só um pouco pra dar uma olhada. Nada. Abro mais um pouco e coloco a cabeça pra fora. Ainda nada.  Começo a sair no corredor com o facão em punho. Caminho até o início da escada e nada lá embaixo tbm. Não vou descer os dez andares pra ver o que aconteceu, mas nem a pau! Vou até a janela no final do corredor e dou uma olhada. DEUS DO CÉU! O que é aquilo?????


Por que diabos aquelas pessoas estão correndo daquele jeito?!?! Muito sangue na rua! E aqueles corpos jogados ali? Que porra é essa??? Ouço um barulho de passos subindo correndo pela a escada rapidamente. Dou uma olhada, ainda assustado com a cena lá em embaixo e vejo um cara subindo correndo. A primeira coisa que reparo é no sangue ensopando sua camiseta e seu rosto. O cara parecia rosnar e estava vindo na minha direção!!! Começo a andar rápido de costas em direção ao meu apartamento.

 - Calma ae cara!!  Fica parado aí!! Já chamei a polícia e eles estão quase aí! ( mentira). Eu tenho um facão, porra!

O cara continuava subindo, já na beira da escada, ele parou e olhou diretamente pra mim. Emitiu uma espécie de rosnado e começou a correr na minha direção.

- Filho da puta! - Após mandar esse palavrão instintivamente, balancei o facão na direção dele, acertando seu braço esquerdo. Ele deu uma leve parada, olhando para a ferida que surgia e pareceu ficar ainda mais nervoso.

- Sai de perto de mim! - E corri para meu apartamento, batendo a porta logo em seguida, trancando tudo que dava pra trancar e empurrando o pesado sofá na direção da porta.

Do lado de fora, o cara espancava a porta com as mãos, gritando feito um louco. Fiquei paralisado olhando pra porta, com o corpo todo tremendo e suando frio. Meu coração estava acelerado e sentia um arrepio na espinha. Mas o que foi isso? Que droga é essa?

De repente, silêncio. Ele havia desistido. Levei um tempo para voltar a mim e corri até meu quarto para pegar o celular.

- Polícia Militar, boa noite.

- Escuta! Tem muito sangue lá embaixo! Pessoas aparentement. mente mortar e, e , caralho, um cara tentou me atacar agora a pouco! Ele estava cheio de..

- No momento, nossa linha está ocupada. Aguarde um pouco que logo lhe atenderemos. - Dizia a voz automatica do outro lado.

- Porra! - Desliguei o celular e joguei na cama. E agora?

O jeito é esperar...



Roberto Medeiros.