segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - Campo Grande MS / Brasil

Longas duas horas se arrastaram desde os acontecimentos estranhos e ainda não consegui tomar uma decisão sobre o que fazer. Todos os canais da televisão estão fora do ar e as linhas de celulares estão congestionadas. Talvez o fim do mundo realmente esteja acontecendo... que bizarro não? Mas, como em tantas outras catástrofes, é bem capaz de que na próxima semana tudo se ajeite e não pare de falar sobre isso nos jornais. Como sempre aconteceu... basta uma trajédia e pronto, só passa isso. Mas agora é diferente pra mim, agora parece que eu faço parte desta trajédia e não mais apenas um telespectador observando de longe. Agora eu sou um dos protagonistas do que irá se arrastar pela a mídia nos próximos dias.
 .
Até encontro uma graça nisso tudo, me imaginando dando uma entrevista para uma emissora qualquer, ou todas elas, quem sabe. Falando sobre o incidente com o maníaco no corredor do meu apartamento. Aliais, o que pode ter sido aquilo, afinal? Melhor nem tentar pensar à respeito agora. Preciso saber como estão as coisas lá fora. Agora a pouco dei uma olhada na janela do meu quarto, que dá para a rua em frente ao prédio e havia dois corpos jogados na calçada, ensopados de sangue.. horrível mesmo, nem quero lembrar... mas o mais engraçado é que nem um sinal de polícia ou bombeiros eu ouvi. Lá fora, só silêncio.

Acho que vou lá pra ver. Ficar aqui dentro não vai me ajudar em nada e já não aguento mais ficar sem saber no que estou metido. É isso, vou arriscar e ver o que houve. Levanto da cama, onde estive refletindo nestas duas últimas horas, tirando os dez minutos em que fui na cozinha comer algo, e vou até o banheiro tomar um banho. Agora que reparei que um filete de sangue estava em parte da manga da minha camiseta e no meu braço, devido aquele golpe com facão que feri o rapaz doido. Com banho tomado, me sinto melhor e mais disposto. Coloco uma calça jeans batida que uso pra ir nas obras e uma camiseta vermelha de manga curta e calço minha bota preta. Pego o facão novamente e minha carteira e celular. Quando estou pra abrir a porta da frente, me vem a cabeça a idéia de levar também a chave da minha moto e o documento. Volto e os busco. Quem sabe né, se eu não vou precisar?

Dou uma olhada no olho mágico da porta e nada vejo. Abro a porta e saio, com o facão em posição de ataque. No chão à frente, uma pequena poça de sangue e na minha porta também. Caminho até o começo da escada e começo a descer. Melhor ir pela a escada... nunca se sabe o que encontrarei lá embaixo. Desço três andares e ouço um barulho estranho. Parece um vaso caindo. Continuo descendo cautelosamente até o sexto andar. Mas acontece tudo tão rápido que mal posso reagir. Ouço um grito atrás de mim e ao me virar, um homem vem caindo na minha direção do alto da escada, com seus braços apontando pra mim. Antes que eu pudesse fazer algo, ele desaba sobre mim e nós dois saímos rolando escada abaixo, até parar em frente à porta que saí no quinto andar. Me levanto rapidamente e percebo que o rapaz também já estava de pé. Era aquele mesmo maluco que me atacou mais cedo. No seu rosto, uma espécie de sorriso sádico e odioso se faz e ele avança em minha direção.

 - Cansei dessa palhaçada. Você quer brincar? Então vamos brincar.

Tomado pela a raiva, perco noção das coisas e avanço também em direção ao desgraçado. Com um movimento firme e preciso, me abaixo no último instante e subo com os braços enfiando o facão no peito do infeliz. A lâmina teima em perfurar e faço ainda mais força, erguendo o rapaz do chão em meio à adrenalina do ataque. Começo a me levantar por completo também e empuro o corpo dele em direção à parede, ainda com o facão atravessando seu tórax. Ele começa a se debater e a rosnar com muita fúria, mas aos poucos, sua voz começa a falhar e uma jarra de sangue sai pela a sua boca, caindo em cima de mim. Logo ele perde sua força e sua cabeça cede lentamente, perdendo a consciência e, aparentemente, a vida. Largo o cabo do facão e ele despenca com o corpo no chão. Dou dois pequenos passos pra trás, tremendo muito. Olhando aquela cena sem acreditar no que acabei de fazer. Minhas mãos estão enxarcadas de sangue e sinto que meu rosto não está diferente. Começo a me afastar lentamente e entro na porta do quinto andar. Vou até o final do corredor e me olho no espelho pendurado na parede.

Uma figura vermelha aparece. Rosto vermelho, braços vermelhos e ironicamente, uma camiseta vermelha.

Eu matei uma pessoa. Louca, possuída, sei lá... mas era uma pessoa....

Roberto Medeiros







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